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Eu nunca tinha visto a morte acontecendo, até o dia em que uma de minhas gatas morreu. Ela sofria de uma doença renal crônica que gradualmente transformou a vida em um fardo pesado para ela. Quando já não conseguia usar a caixa de areia direito nem se alimentar, e já não interagia muito conosco ou com as outras gatas, a veterinária nos avisou que ela não ficaria melhor e o sofrimento aumentaria, portanto, ajudá-la a fazer a passagem seria uma decisão sábia e compassiva.

Em um sábado de manhã, pegamos um táxi, segurando Ana dentro de sua caixa de transporte e nos esforçando para manter o coração inteiro e em paz.

Ela estava quieta e em paz durante todo o caminho, e até mesmo quando finalmente estávamos na clínica, com ela no colo, conversando com a veterinária para ter certeza de que estávamos fazendo a coisa certa. Também nos certificamos de que Ana sentiria Amor fluindo de nosso coração até ela.

A veterinária separou o material que ela precisava para dar a injeção. Com muito cuidado e respeito por aquele ser vivo, ela começou o processo.

Quando os primeiros miligramas de anestesia passaram pelo catéter, eu me inclinei na direção de Ana e olhei dentro de seus olhos. De repente, eles ficaram vazios. Não havia vida naquele corpo. Ana se foi.

Todas minhas leituras e meditações, todos meus pensamentos e questionamentos referentes à morte se juntaram no meu coração e fizeram sentido — pelo menos um pouco de sentido.

Almas são livres. São energia; são vibração. Elas povoam o corpo, tomando certa forma, mas elas mesmas são amorfas, leves e fluidas. Almas são divinas; elas são a fonte: puro amor. Enquanto eu via algo acontecer naqueles olhos; enquanto eu mergulhei no preto de suas pupilas, pude ver Ana voar e deixar o corpo. Foi aí que senti a morte — ainda não tenho certeza do quão pouco eu a entendi. Foi forte.

Eu nunca tinha visto ela acontecer; eu nunca tinha visto a morte em si. Mas agora que vi, agora que eu de fato vi como os olhos são janelas para a alma, uma coisa está clara: tornamo-nos fragmentados, partimo-nos no momento em que assumimos certa forma. Ao longo da vida, enquanto tentamos caber nesta ou naquela posição e seguir padrões, estilhaçamo-nos. Então tentamos encontrar e colar os cacos, sem saber que eles nunca caem longe de nós; eles estão dentro de nós. Quando morremos, nós nos tornamos inteiros novamente.

Almas são seres. Corpos são estados, territórios. A morte é transição.

Enquanto criamos raízes por meio da consciência — a meditação nos proporciona essa raiz, e quanto mais fundo ela vai, mais alto nós crescemos —, o Amor nos dá asas, e é através do Amor que nos reunimos com o divino e somos capazes de deixar a forma e ser essência. É através do Amor que conhecemos a verdade e nos livramos do ego, das camadas que distanciam a alma do mundo. Através do Amor vivemos a realidade. Amor é Deus, Deus é liberdade: nossas asas para voar. Onde há Amor não há medo, há liberdade.

Morremos. Frequentemente morremos, sempre que somos capazes de escapar da forma e ser real, inteiro. E foi assim que vi a morte como uma ação que faz parte do processo Vida. Minha mente provavelmente vai tentar encontrar Ana no lugar onde ela passava a maior parte dos seus últimos dias na Terra, mas meu coração sabe, ela era mais do que aquela forma material presente em minha vida. Ela é muito mais do que Ana.

Que aquela alma esteja em paz na luz.
Akaal

Om Shanti

Homenagem a Ana (aka Meu Dragão Velho!) e seus 14 anos de aventura na Terra! 🖤

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One thought on “A morte é transição

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